LITERATURA

LITERATURA: o que é isso?


I. O QUE É LITERATURA

Uma coisa é escrever como poeta, outra coisa como historiador: o poeta pode contar ou cantar coisas não como foram, mas como deveriam ter sido, enquanto o historiador deve relatá-las não como deveriam ter sido, mas como foram, sem acrescentar ou subtrair da verdade o que quer que seja”.
(Miguel de Cervantes)

Assim como a música, a pintura e a dança, a Literatura é considerada uma arte. Dependendo da manifestação artística, lança-se mão de determinada matéria-prima. Se, na pintura, a matéria-prima são as cores, e, na música, os sons, na literatura essa matéria são as palavras. É com elas que o escritor faz sua arte, que, por isso, será chamada de literária. Portanto, é possível concluir que literatura é a arte da palavra.

A palavra artística
Sendo a literatura a arte da palavra, convém dizer, então, que o texto literário se utiliza da palavra artística; ou seja, a palavra cheia de significados, ou sentido figurado. Usando um termo mais técnico, conotação.

A linguagem popular, por sinal, é rica em conotação. Ela nos fornece farto material em linguagem conotativa. Seja o leigo, seja o letrado, todos abusam constantemente da linguagem figurada Vejamos:

-Deu-me um nó na garganta de tanto medo.
-Mas o Carlos é um mala sem alça.
-Chegou cuspindo fogo, tanto era sua ira.
-Nesse caso, lavo minhas mãos, pois não posso fazer mais nada.
-Ele está viajando com essa música.
-Essa menina só vive na lua!
-Ele chegou com uma quente e duas fervendo.
-Baixa esse fogo, menino!!! Fica quieto!!!
-Inconformado com tanta desrespeito, chutou o pau da barraca.
-Ele é do tipo que mata a cobra e mostra o pau.
Este ano, completa 20 primaveras.


II. TEXTO LITERÁRIO E TEXTO NÃO-LITERÁRIO

Nem todo texto é literário. Ou seja, existe o texto literário e o não literário. A distinção entre eles começa já pelo objetivo.

São dois os objetivos básicos que determinam essa diferenciação: entreter e informar.

Texto não literário
Se determinado texto é produzido com a intenção de informar o leitor, privilegiar-se-á a informação em detrimento do próprio texto, o qual, por isso, apresentará apenas uma natureza utilitária. Logo, suas características são:

• Ênfase na informação ou instrução
• Abordagem direta de fatos da realidade;
• Antiesteticismo;
• Impessoalidade e objetividade;
• Monossignificação;
• Formato único: prosa;
• Denotação;
• Funcionalidade;

EXEMPLOS: Notícias, textos científicos, didáticos, e instrucionais, ofícios, memorandos, avisos...

Exemplo de texto utilitário:
TEXTO I
Incêndio destrói prédio de 4 andares no Centro
Um incêndio, possivelmente provocado por um curto-circuito, destruiu, no início da madrugada de ontem, um prédio de quatro andares na Rua Teófilo Otoni, 38, no Centro. O fogo começou no primeiro andar, onde funcionava uma empresa especializada na venda e fabricação de componentes eletrônicos, a Mec Central. O prédio era de construção antiga e estava em obras; como havia grande quantidade de madeira estocada, a propagação do fogo foi rápida. A ação dos bombeiros evitou que prédios vizinhos fossem atingidos pelas chamas. Não houve feridos.

(Jornal do Brasil, 19/02/97)

Texto literário
Se determinado texto é produzido com a intenção primeira de entreter o leitor, privilegiar-se-á a fantasia, a ficção, o trabalho com a linguagem e a forma, ou seja, a natureza artística e literária.

• Ficcionalidade: os textos não fazem, necessariamente, parte da realidade.
• Função estética: o artista procura representar a realidade a partir da sua visão.
• Plurissignificação: nos textos literários, as palavras assumem diferentes significados.
• Subjetividade: expressão pessoal de experiências, emoções, sentimentos e ideologias.
• Conotação: emprego da linguagem figurada;
• Formato: prosa e/ou verso;

EXEMPLOS: Poesias, romances, novelas, contos, dramas...;

Exemplo de texto literário:
TEXTO I
Num alvoroço de alegria, os homens viam amarelecer a folhagem que era a carne e fender-se os troncos firmes, eretos, que eram a ossatura do monstro. Mas o fogo avançava sobre eles, interrompendo-lhes o prazer. Surpresos, atônitos, repararam que a devastação tétrica lhes ameaçava a vida e era invencível pelo mato adentro, quase pelas terras alheias. (...) O aceiro foi sendo aberto até que o fogo se aproximou; a coluna, como um ser animado, avançava solene, sôfrega por saciar o apetite. Sobre a terra queimada na superfície, aquecida até o seio, continuava a queda dos galhos. O fogo não tardou a penetrar num pequeno taquaral. Ouviam-se sucessivas e medonhas descargas de um tiroteio, quando a taboca estalava nas chamas. O fumo crescia e subia no ar rubro, incendiado, os estampidos redobravam, as labaredas esguichavam, enquanto a fogueira circundava num abraço a moita de bambus.
(Fragmento. Graça Aranha. Canaã, Rio de Janeiro, F.Briguiet, pp.111-113)

TEXTO II
mar azul

mar azul marco azul
mar azul marco azul barco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul ar azul

(Ferreira Gullart)

TEXTO III
Moça linda bem tratada,
Três séculos de família,
Burra como uma porta:
Um amor.

Grã-fino do despudor,
Esporte, ignorância e sexo,
Burro como uma porta:
Um coió.

Mulher gordaça, filó,
De ouro por todos os poros
Burra como uma porta:
Paciência...

Plutocrata sem consciência,
Nada porta, terremoto
Que a porta do pobre arromba:
Uma bomba.
(Mário de Andrade)

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